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THAMIRES ANDRADE
Thamires Andrade é uma pessoa comum que escreve poesia por necessidade. Adora os tropicalistas, principalmente tom zé, pitangas, dançar, fazer bolos, crianças pequenas, filmes dos trapalhões, gatos, andar de metrô, dias azuis e cheiro de chuva. Leu Mario Quintana pela primeira vez aos 12 anos e nunca mais vai parar. É educadora com formação em Psicologia e Psicanálise, mas gostou mesmo é de ter feito um curso de clown.
Um poema do livro Meus melhores poemas eu náo escrevi e esqueci - SP – Editora Patuá:
poema sangrando
o sal na célula
a sede
enquanto eu sangro me sambam os sentidos
eu sinto dores
escapo às sombras
e enquanto sangro eu choro
pelos olhos pelo colo pelos poros
o sangue que passa se soma ao esforço
e mesmo sem sol saio soul e força
saiam da frente
sim, eu estou sorrindo
mas me sangram as sílabas
ANTOLOGIA PATUÁ 10 ANOS + Patuscada/ Vários autores. Editor Eduardo Lacerda. Capa de Leonardo Mathias. São Paulo: Editora Patuá, 2021.; 288 p. 13,5 x 21 cm.
ISBN 978-65-5864-191-9 Ex. bibl. Salomão Sousa
Poema azul
quando eu fizer um poema azul
livros serão itens de cesta básica como sonhou o marujeiro
[da lua waly Salomão
e com arroz e feijão não faltarão nunca
quando eu fizer um poema azul
escadas não vão mais agredir mulheres e
todos os filhos de boto vão ter o nome do pai no registro e a
[pensão sempre paga em dia
quando eu fizer um poema azul
o sentido da vida disponível com panfleto em cada esquina
[e na saída das estações
e burgueses entediados não mais preencherão seus vazios
cheirando pó em banheiros precários sobre tampas de
[privadas imundas
quando eu fizer um poema azul
nunca mais estarão perdidos de seus pares os pés de meia
[dentro da máquina de lavar e debaixo da cama e
nenhum cerol cortará os sonhos dos meninos, presos às pipas
quando eu fizer um poema azul
será o fim de todo AI5 AK47 F33
e da bandeira vermelha na conta de luz
quando eu fizer um poema azul
não sobrará nenhum peso nos ombros nas pernas do anos
[nas costas nos olhos e na consciência
e será abolido o tempo lógico insensível imposto pelos
[relógios de parede
quando eu fizer um poema azul
a alegria da porta aberta a casa cheia a mesa posta a toalha
limpa
os braços abertos escancarados desabrochados quentes como
[meias de lã tricotadas por avós bondosas
quando eu fizer um poema azul
vamos sonhar tranquilos a estampa das fronhas
rodar as flores estampadas nas saias
comer os poemas estampados nas camisetas
quando eu fizer o poema azul
estarão para sempre erradicados sarampo pólio rubéola
[malária varíola ódio covardia cânceres hiv
quando eu fizer um poema azul
azul do tom mais puro índico djavânico celeste sereno
[perfeito
um poema azul barbitúrico analgésico ansiolítico narcótico
lisérgico
um poema santo sagrado sublime inviolável infalível
[sobrenatural
quando eu fizer um poema azul
vou parir o novo cristo
e destravarei todas as profecias dos irmãos fiéis de terno
barato que pregam a palavra do senhor no transporte público
[sob o calor de dezembro:
quando eu fizer um poema azul
nunca mais tristeza e dor
*
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Página publicada em dezembro de 2021
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